Teatro
30 de março de 2009"A gente não gosta de ouvir o barulho da cela sendo fechada, é como um golpe na cabeça lembrando que você está na prisão", diz Steve Bethke ao comentar o cotidiano na penitenciária Zeithain, em Dresden.
Bethke tinha 16 anos quando foi preso. "A cela se fechou, fui olhar pela janela e não podia, porque tinha uma grade. Foi aí que pensei: agora você está realmente sozinho aqui. E comecei a chorar."
Olhar por entre as grades
Este tipo de depoimento é corrente em Pop Shop, uma peça que está sendo encenada em Dresden pela dramaturga Nina Steinhilber e pela diretora Jenny Flügge. Voltada para o dia-a-dia dos jovens atrás das grades, a peça tem como ponto de partida a pergunta: o que esses garotos pensam quando a porta da cela se fecha?
As respostas para tal questão foram encontradas em depoimentos com jovens infratores, entre outros no livro Pop Shop, que contém entrevistas feitas por três autores com detentos da penitenciária de Ossendorf, em Colônia. Além disso, Steinhilber e Flügge encontraram-se pessoalmente com jovens detidos na penitenciária de Zeithain, em Dresden.
Os depoimentos, segundo a dramaturga Steinhilber, foram às vezes incrivelmente honestos. "É claro que há também alguns trechos que tocam profundamente. E outras coisas que são simplesmente engraçadas", conta ela. A partir destes relatórios cotidianos, Steinhilber e Flügge escreveram uma peça de teatro para três atores.
Do livro ao palco
Paredes altíssimas dividem o palco em celas ínfimas, onde os atores – dois homens e uma mulher – se locomovem e falam sobre suas vidas na prisão, o tédio, a solidão e sobre como ficaram felizes em receber a primeira carta depois que chegaram ali.
Jörg Hauenstein é um dos três autores que fizeram as entrevistas com os detentos da penitenciária em Colônia. Ele conta que, a princípio, chegaram a questionar se seria uma boa ideia usar três atores adultos para interpretar esses jovens na peça, o que acabou dando certo.
"Estou muito impressionado com o trabalho, porque os desabafos e toda a forma como esses jovens lidam com a própria vulnerabilidade e com seus problemas acabou sendo muito bem representada", diz Hauenstein.
Oportunidade para o público
Entre as cenas da peça, são exibidas pequenas sequências de um filme que mostra o dia-a-dia dentro da penitenciária de Dresden. "Chega uma hora em que se segue de tal forma uma rotina, você levanta cedo, vai dormir, faz tudo regrado e isso também te deixa mais calmo. No início, era uma situação opressora, mas com o tempo ela se torna mais agradável", conta o detento Nico Donner numa sequência do filme feito pela dramaturga Steinhilber e pela diretora Flügge.
Steinhilber conta que elas conseguiram se aproximar dos detentos durante o desenrolar do projeto, embora uma certa distância tenha sido mantida. Também graças aos próprios jovens, que, em seus relatos, descrevem suas vidas sem qualquer autocompaixão, levando o espectador a conhecer a raiz dos problemas pelos quais passam.
"Esta é, também para o público, uma ótima oportunidade de participar de forma distinta da discussão a respeito da criminalidade juvenil e de jovens infratores, olhando, de fato, por detrás das grades", conclui Steinhilber.
Autora: Grit Krause
Revisão: Rodrigo Rimon