Política externa
11 de fevereiro de 2007O presidente russo, Vladimir Putin, pretende deter uma expansão militar norte-americana. Na Conferência Internacional de Segurança, realizada em Munique, Putin responsabilizou os Estados Unidos pelo agravamento dos conflitos em todo o mundo: "Os EUA passaram dos limites em quase todos os sentidos".
Ele ameaçou reagir militarmente ao sistema de defesa antimíssil planejado pelos EUA no Leste Europeu. "Temos armas capazes de superar este sistema", declarou ele, acrescentando que essas armas não estariam apontadas para os EUA no momento.
O secretário de Estado norte-americano, Robert Gates, advertiu Putin contra um afastamento da Rússia em relação aos EUA. "Ninguém quer uma nova guerra fria. Isso é absolutamente desnecessário", declarou Gates. "O sistema de defesa antimíssil não está apontado para a Rússia. Ele servirá para proteger nossos amigos e aliados", explicou ele, reiterando também a importância da parceria com Moscou.
Kosovo agrava divergência entre Rússia e Ocidente
A Casa Branca refutou as críticas do presidente russo, recebidas com surpresa e decepção em Washington. Os Estados Unidos esperam poder lutar contra o terrorismo em parceria com a Rússia, comunicou a Casa Branca.
A premiê alemã, Angela Merkel, declarou que "nenhum país do mundo tem poder, dinheiro e influência suficientes para enfrentar sozinho todos os desafios". Merkel ressaltou que a relação entre a Rússia, a Otan e a UE é fundamental para a estabilidade mundial. Ela recomendou que as divergências entre os blocos sejam abordadas de forma aberta.
A questão do status do Kosovo acirrou ainda mais a divergência entre a Rússia e o Ocidente durante a conferência de Munique. A província sérvia com população predominantemente albanesa exige a independência. Representando a presidência da União Européia, assumida pela Alemanha até junho, Merkel declarou que a Sérvia deveria acompanhar este processo com dignidade.
Putin, por sua vez, advertiu contra a imposição de uma solução aos sérvios e a humilhação de uma das facções do conflito. "Se virmos que um dos lados não está satisfeito com a proposta para solução da crise, não a apoiaremos", declarou Putin, referindo-se à sugestão das Nações Unidas para a região. No início de fevereiro, o encarregado da ONU nas negociações do status do Kosovo, Martti Ahtisaari, apresentara uma proposta que praticamente endossa a independência da província.
"Existem questões mais importantes que o holocausto"
A Conferência de Segurança não levou a nenhum avanço nas negociações entre o Ocidente e o Irã. O representante iraniano, Ali Larijani, reiterou a intenção de Teerã prosseguir o enriquecimento de urânio que a comunidade internacional pretende impedir.
Larijani advertiu que ninguém teria o direito de impor seus valores aos outros. "Temos um sistema democrático no nosso país", declarou ele. Referindo-se aos dissidentes do governo em Teerã, Larijani disse que seu país também é vítima do terrorismo. Ele exigiu que os EUA retirem suas tropas do Iraque, apontando para o círculo vicioso da intervenção militar: os terroristas justificariam seus atos com a ocupação americana, e os EUA tentariam legitimar sua presença militar com os atentados terroristas.
Agravando ainda mais o diálogo com o Ocidente, Larijani qualificou a ocorrência do Holocausto como uma questão em aberto. Ele afirmou não aceitar e não descartar o assassinato de milhões de judeus: "Não afirmo, nem nego. Há questões mais importantes do que essa". Larijani considera um exagero a indignação mundial com a negação do holocausto por parte do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad: "Não consigo entender essa reação exacerbada, sempre que se trata do Holocausto".