Saída do PMDB abre portas para partidos ligados a escândalos
31 de março de 2016A decisão do diretório nacional do PMDB de se retirar da base aliada levou o governo a abrir uma temporada de ofertas de cargos na administração federal para ampliar o espaço de outros partidos. Entre eles estão alguns dos mais enrolados nos escândalos de corrupção que estouraram nos últimos anos, como o PP e PR.
Com a oferta, o governo da presidente Dilma Rousseff tenta convencer os partidos a se posicionarem contra o impeachment e assim conseguir os 172 votos necessários para barrar a queda da presidente na Câmara.
Em troca dos votos, membros desses partidos podem vir a ocupar espaços hoje do PMDB, o que inclui ministérios com orçamentos vultosos, como a Saúde e Minas e Energia, e postos em bancos públicos e empresas estatais. Ao todo, o PMDB tem sob seu controle quase 600 desses cargos.
O ministro-chefe do gabinete pessoal de Dilma, Jaques Wagner, classificou as negociações como uma "ótima oportunidade de repactuar o governo". Um assessor da Presidência, de maneira mais cínica, disse à emissora Globo News que "o desembarque do PMDB abriu a Disneylândia para o baixo clero".
PP é alvo principal
O principal partido cortejado pelo governo é o PP, o sucessor da antiga Arena (o partido de sustentação do regime militar que vigorou até 1985), que já ocupa o Ministério da Integração Nacional e agora pode ter seu espaço ampliado.
Recentemente, o PP se tornou o partido com o maior número de investigados por envolvimento no escândalo da Petrobras. Dos 51 políticos suspeitos de corrupção no caso que tiveram seus nomes divulgados, 32 são do PP. O partido também abriga figuras controversas, como o deputado Paulo Maluf (SP), que já foi condenado diversas vezes por fraude e lavagem de dinheiro.
Segundo a imprensa brasileira, o governo está negociando entregar o Ministério da Saúde, que tem orçamento de 109 bilhões de reais, em troca de uma garantia de que uma boa parte dos 49 votos do PP na Câmara sejam incluídos no cálculo contra o impeachment.
Entre os nomes especulados para ocupar a pasta está o do deputado paranaense Ricardo Barros – que responde a um processo por direcionamento de licitações à época em que era prefeito de Maringá – e do o deputado Cacá Leão, cujo pai, o vice-governador da Bahia, João Leão, aparece na lista de suspeitos de participação na fraude da Petrobras.
Na última quarta-feira, sete dos 32 políticos do PP foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República por corrupção no caso Petrobras. Entre eles estão cinco deputados que podem participar da votação do processo de impeachment. Atualmente, um ex-presidente da sigla, Pedro Correa, está preso tanto por envolvimento no chamado petrolão como por uma condenação no caso do mensalão.
PR: de varrido a necessário
Já o PR, partido que sucedeu o antigo PL – uma das siglas envolvidas no caso do mensalão – conta com 40 votos na Câmara. O atual presidente da sigla é o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, que em 2011 foi demitido por Dilma por suspeita de corrupção na efêmera "faxina" que marcou o início do seu primeiro mandato. Aos poucos a sigla voltou a ocupar cargos mais altos no governo e reconquistou o antigo ministério.
Outros nomes do partido incluem o ex-governador Anthony Garotinho, que já foi condenado por formação de quadrilha e corrupção, e o ex-deputado Inocêncio Oliveira, condenado por trabalhadores em regime de escravidão. Especula-se que o PR possa também ocupar o Ministério de Minas e Energia e a pasta do Turismo em troca de apoio.
Além do PP e do PR, o governo quer fortalecer a relação com o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que conta com 31 votos na Câmara e já comanda o Ministério das Cidades. Também estão sendo travadas negociações com siglas nanicas, com o PTN, PHS, PSL, PEN e PTdoB.
O PTN, por exemplo, já está perto de coletar a chefia da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em troca do apoio dos seus 13 deputados.
Efeitos
A ofensiva do governo já mostrou alguns resultados. Logo após o anúncio da saída do PMDB, temia-se uma debandada de outros partidos da base aliada, o que não aconteceu.
Ainda assim, a estratégia do governo ainda esbarra nos rebeldes dentro desses partidos, que já anunciaram que não desejam mais continuar no governo. Os próprios líderes do PP, por exemplo, admitem que a bancada está dividida. Uma situação similar também ocorre no PR.
Ou seja, o governo pode ofertar quantos cargos quiser, mas não é certo que os dirigentes dessas siglas vão entregar todos os votos necessários. No PSD, a maioria dos 31 deputados já se manifestou em outras ocasiões a favor da destituição de Dilma.
Mesmo a oferta de cargos ainda esbarra numa situação paradoxal envolvendo uma parte do PMDB. Oficialmente, o partido saiu do governo, mas vários dos seus membros resistem a entregar os cargos. Alguns deles, que têm influência nos votos de deputados do partido, já anunciaram publicamente que querem ficar ao lado do governo.
Dois dias depois do anúncio, seis dos sete filiados do partido que ocupavam ministérios ainda seguem no comando das pastas. Entre eles está Marcelo Castro, da Saúde (pasta que está sendo negociada com o PP). O deputado Leonardo Picciani, que indicou Castro, afirma que a manutenção do ministro garantiria 25 votos a favor do governo dentro do PMDB. Dessa forma, Dilma corre o risco de perder votos de dissidentes do PMDB ligados aos seus ministros na tentativa de conseguir votos de outro partido.
No momento, Dilma só pode ter certeza de contar com 76 dos 172 votos necessários para barrar o impeachment. Nessa conta estão os votos dos 58 deputados do seu próprio partido, o PT, e de membros do PCdoB e do PSOL, partidos que já se posicionaram contra o impeachment e tem um histórico mais regular de votação em bloco.