Marchando para um Exército comum
11 de maio de 2008Na convenção de seu Partido Social-Democrata (SPD), no início desta semana, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, pleiteou que se acelerem os esforços no sentido de integrar as Forças Armadas européias.
Não chegou a ser um "chamado às armas". Porém notícias dos bastidores levam realmente a crer que, caso o tratado constitucional da UE seja ratificado por todos os 27 países-membros, cada um deles disporá de maior liberdade para cooperar em termos de política de segurança.
E este poderia ser um dos primeiros passos em direção a um futuro Exército europeu. Ainda estamos a décadas de ver uniformes portando a bandeira da União Européia, porém para alguns sua necessidade é tão clara quanto foi a adoção de uma moeda comum.
Analogias com o euro
O SPD expôs sua visão de uma força militar combinada: esta englobaria um comando de transporte aéreo europeu, um "real" conselho ministerial de defesa e a criação de uma academia militar da UE.
O ex-ministro alemão da Defesa e chefe da bancada social-democrata no Bundestag, Peter Struck, lembrou que, durante anos, muitos consideraram o euro como um sonho; as discussões foram longas e marcadas por ceticismo. Hoje, a meda única é uma realidade.
Também no tocante às forças armadas comuns, o dinheiro é o argumento principal: os defensores da idéia consideram um monstruoso desperdício de recursos manter 27 forças militares diferentes com 27 arsenais e conjuntos de equipamentos distintos.
Multiplicando e enfraquecendo
Segundo dados da Agência Européia de Defesa (AED), criada em 2004 para expandir as capacidades do bloco neste setor, os 27 países-membros da UE empregaram 201 bilhões de euros em defesa, em 2007. A soma só é inferior aos 491 bilhões gastos pelos Estados Unidos.
Entretanto, na Europa o efeito cumulativo destes investimentos é enfraquecido pela duplicação de tarefas nas diferentes tropas nacionais. Ao mesmo tempo, as modernas ameaças à segurança extrapolam, em geral, as capacidades das forças militares de um único país.
"Terrorismo internacional, proliferação de armas de destruição em massa e conflitos regionais fora de nossas fronteiras: estes são, todos, perigos que só podemos enfrentar juntos", declarou Struck.
Conexão franco-alemã
Durante a conferência social-democrata, Steinmeier revelou haver discutido concretamente a perspectiva de uma cooperação militar mais estreita com o ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner. A Alemanha vê a França como parceiro essencial, dentro deste processo. Prova disto seria a brigada franco-alemã que existe desde o início da década de 1990.
Já em 2007, a chanceler federal declarara em entrevista ao jornal popular Bild: "Dentro da própria UE, teremos que nos mover na direção de estabelecer uma força militar comum européia".
Tal concepção encontra eco junto ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, e outros líderes e políticos de peso do bloco. A França anunciou que a política européia de segurança constituirá o foco de seu mandato, quando assumir a presidência rotativa da UE, em meados deste ano.
Temor pela soberania nacional
Embora as forças armadas da UE sejam uma meta perseguida de forma conseqüente pela política, para muitos europeus é desconfortante a perspectiva de abrir mão do próprio poder militar.
O tratado de reforma da UE prevê que cada membro cooperará em "tomar medidas concretas para reforçar a disponibilidade, interoperabilidade, flexibilidade e mobilidade de suas forças".
Segundo Henning Riecke, diretor do programa de política européia de segurança junto à Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP), caso o tema seja tratado como um projeto delimitado, culminando num comando europeu fora da soberania nacional, será grande a resistência.
Nada é para já...
Por outro lado, se for apresentada como um processo de lenta integração militar, com a criação de novas instituições voltadas ao crescimento orgânico em direção a uma força armada comum, a iniciativa será mais bem recebida.
Os cabeças da UE e os maiores Estados europeus também vêem desta forma a questão, e preferem não alardear demais o tema, enquanto trabalham silenciosamente em prol dele.
Por motivos táticos, é preferível esperar até que o tratado constitucional de reforma haja sido plenamente aprovado, já que a idéia de um super-exército manipulado por burocratas anônimos de Bruxelas poderia pôr em risco o próprio tratado.
Contudo ainda há que esperar. Interrogado sobre o possível cronograma de um futuro euro-exército, o especialista em segurança e política externa Riecke retrucou: "Ah, volte e me perguntar daqui a dez anos!"