Árabes temem hostilidades na Alemanha
28 de agosto de 2006Desde as tentativas fracassadas de atentado em trens na Alemanha, em julho passado, as autoridades locais estão em estado de alerta, suspeitando de toda bagagem sem dono nas estações. A busca de suspeitos culminou até agora na prisão de três libaneses no país e um no próprio Líbano. Os libaneses residentes na Alemanha se sentem diretamente atingidos por esses acontecimentos.
"Entre as vítimas poderia estar minha família"
"Venho do Líbano e vivo há um tempo na Alemanha. Também tenho a cidadania alemã e me sinto em casa aqui. Mas esses ocorridos têm grande impacto sobre a gente. O fato de os suspeitos dos atentados a bomba serem libaneses deixa marcas na vida de todos os libaneses e árabes. Somos contra esses atentados que matam apenas inocentes. Entre as vítimas poderia estar minha família. Sou contra, independentemente de isso ocorrer na Alemanha ou no Líbano."
Este libanês residente há 30 anos na Alemanha não consegue entender o motivo de tais atentados. Afinal, a Alemanha ajudou os libaneses durante a guerra civil no início da década de 1980. Muitos receberam asilo no país. E agora essa atitude: é assim que eles agradecem?!
"Os alemães não perguntaram qual era a nossa religião"
"Acredito que muita gente aqui não queira se integrar. Muitos vieram à Alemanha, mas não querem aprender a língua. Vivem em sociedades fechadas e esquecem que estão morando em outro país. Educam seus filhos de forma errada, ressaltando que os alemães têm outra religião e advertindo-os a não serem como eles. Mas os alemães não perguntaram qual era a nossa religião antes de nos ajudarem. Não disseram: 'Ah, já que vocês são muçulmanos, não vamos ajudá-los'. Eles nos ajudaram simplesmente como seres humanos."
O proprietário de uma loja de produtos libaneses em Bonn também é dessa opinião. Fahd, que vive já na Alemanha há um bom tempo, nunca teve dificuldades com os alemães. Seus cinco filhos nasceram na Alemanha e convivem pacificamente com seus colegas na escola. Muitos de seus fregueses também são alemães. E agora ele tem medo que eles deixem de comprar em sua loja.
"Os alemães não têm nada a ver com a guerra no Líbano"
"O fato de um libanês vir à Alemanha e tentar cometer atentados terroristas vai prejudicar muito os libaneses residentes aqui. Os alemães não têm nada a ver com a guerra no Líbano. Esses atentados passam uma imagem muito ruim dos árabes que vivem aqui. É por isso que às vezes os alemães sentem uma certa aversão contra os árabes."
"Por exemplo, muitas freguesas provavelmente não vão vir mais fazer compras aqui porque temem um atentado terrorista. Para mim, é constrangedor ver certos árabes se revelarem terroristas. O que fazer? Eu sempre tento explicar o contexto desses problemas para os meus fregueses ou vizinhos. Muitos europeus não fazem idéia do que ocorre nos países árabes."
No Café Safad, em Bonn, costumam se reunir muitos árabes. Eles tomam chá, fumam narguilé e conversam sobre a vida. Muitos expressam sua fúria contra certos árabes, responsáveis pela propagação de uma péssima imagem da comunidade na Alemanha. Mohammed Ali el Sheikh, um sudanês que vive há 40 anos no país, considera o comportamento de muitos árabes um grande problema.
"Reclamações e lamentos vêm de toda parte. Muitos estrangeiros se sentem oprimidos e muitos alemães são de opinião de que os estrangeiros não respeitam as leis. Sim, os problemas são muitas vezes causados pelos árabes, caóticos e curiosos."
Nem todos os árabes são terroristas
Ali, um palestino de 29 anos residente há apenas dois anos na Alemanha, entende perfeitamente o medo dos alemães, que se tornaram mais cuidadosos depois dos atentados em Madri. Ele tenta explicar aos seus amigos e conhecidos que nem todos os árabes são terroristas. Um pequeno número de árabes residentes no país é responsável pela péssima imagem da comunidade. Ou seja: um pequeno grupo tem o poder de sujar a imagem de uma grande quantidade de pessoas.
"Entendo a postura dos alemães. Não é uma questão de opressão dos estrangeiros, como muitos dizem. O problema é nosso. Não respeitamos as leis, só fazemos desordem, vivemos numa sociedade fechada. Isso não tem nada a ver com o islã. Estamos acostumados a mentir. A Alemanha dá aos estrangeiros muitos direitos: direitos sociais, convênio de saúde, seguro-desemprego, mas as pessoas mentem. Eu me pergunto: se alguém fosse à sua casa e demolisse seus móveis, o que o senhor faria? É o país deles e eles deveriam protegê-lo."