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Élber: "Acho muito difícil uma seleção ganhar da Argentina"

Geraldo Hoffmann23 de junho de 2006

Craque do Cruzeiro, que escreve Blog na DW-WORLD, analisa o desempenho de Brasil e Alemanha na primeira fase, diz que troca de gramado foi erro da Fifa e que arbitragem pode decidir o Mundial.

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Atacante do Cruzeiro comenta na Copa em Blog da DW-WORLDFoto: dpa

DW-WORLD: Quais foram as grandes surpresas da primeira fase do Mundial?

Giovane Élber: Para mim, a grande surpresa foi a seleção de Gana, que chegou às oitavas-de final, em sua primeira participação numa Copa do Mundo; a Suíça, que vem apresentando um bom futebol; e Portugal. O Felipão está fazendo um excelente trabalho e conseguiu dar uma cara de time vencedor à equipe de Portugal.

O que achou do desempenho do Brasil na primeira fase?

Eu esperava um pouco mais do que foi feito nos dois primeiros jogos. Já no jogo de estréia contra a Croácia, que foi difícil, mas acabamos conquistando os três pontos. No final, todo mundo fala que os três pontos é o que foi importante, e realmente foi nesse jogo. O segundo jogo também foi muito difícil, porque a Austrália soube marcar muito bem o Brasil. Contra o Japão foi um bom jogo para apagar um pouco a impressão que a seleção deixou nas duas primeiras partidas, em que pareceu jogar de freio de mão puxado. Foi bom para mostrar que os brasileiros ainda sabem marcar gols e não apenas ganhar por 1 a 0 ou 2 a 0.

O futebol brasileiro dos dois primeiros jogos chegou a ser qualificado como "futebol burocrático". Parreira cometeu erros ou foi apenas falta de condição dos jogadores?

Acho que o problema foi que quando se entra numa Copa do Mundo como o grande favorito todo mundo espera que você comece ganhando os jogos por 3 a 0, 4 a 0. Mas vimos nessa Copa do Mundo que todos os jogos são difíceis, não só para o Brasil, mas também para a França, a Argentina ou outras equipes. A Costa do Marfim mandou em boa parte do jogo em que a Argentina ganhou por 2 a 1. Mas, como o Brasil tem muitos bons jogadores, sempre se espera uma goleada. E quando isso não acontece, surgem as críticas de que o Brasil está jogando só pelo resultado. Acredito que o Brasil desde o começo da Copa já queria fazer mais gols e mostrar para todo mundo que merece estar entre os favoritos.

O principal foco das críticas foi Ronaldo. Houve algum esquema para manter o jogador na equipe, só para que ele pudesse quebrar o recorde de gols de Gerd Müller em Copas?

WM 2006 - Brasilien - Spieler - Ronaldo
Ronaldo: livre da maré de azarFoto: AP

O que eu acho legal é que já nos dois primeiros jogos, contra a Croácia e a Austrália, todos os jogadores da seleção estavam procurando lançar a bola para ele. Eles sabem que vão precisar dele para os jogos finais. Contra o Japão ele mostrou de novo que é um goleador, que não precisa de muito espaço para fazer os gols. Aquele azar que ele teve nos dois primeiros jogos, parece que foi embora. Agora é esperar que das oitavas-de-final para frente ele possa melhorar sua condição física. Nós vimos que ele não é mais aquele Ronaldo que se estava acostumado a ver. Mas ele tem muito futebol ainda.

Você conta com ele até na final, se o Brasil chegar lá?

Sim. É um jogador que tem experiência, que nas horas mais difíceis sabe decidir. Ele foi muito criticado nos dois primeiros jogos, às vezes até com razão, porque não está mesmo na sua melhor condição física. Mas contra o Japão deu para ver que, se o deixarem dominar a bola perto da área ele é um jogador perigoso e que pode fazer muita diferença. Agora ele sabe que afastou essa maré de azar e podemos esperar boas coisas dele ainda.

E os reservas, que fizeram um bom jogo contra Japão, voltam para o banco?

Com certeza, vão voltar para o banco. A única duvida é se fica o Robinho ou se volta o Adriano. Os outros – Gilberto, Gilberto Silva, Juninho e Cicinho – tiveram seu espaço para mostrar por que estão na seleção, mas acho que voltam para o banco. Não existe na seleção brasileira o dito reserva. Qualquer jogador que entra tem plenas condições de fazer gols e decidir partidas também.

E a Alemanha. O que você achou do desempenho dos anfitriões na primeira fase?

WM 2006 - Deutschland - Fans - Grossbild
Com apoio da torcida, Alemanha pode ir longeFoto: AP

Eu estou muito surpreso com o futebol que eles vêm mostrando. Não foram muito bem nos amistosos antes da Copa. A defesa foi muito criticada. Mas eles deram a volta por cima e dentro da competição estão crescendo a cada jogo, com o incentivo da torcida, como o Klinsmann pediu. No meu ponto de vista, é uma seleção que é candidata a chegar às finais.

Isso significa que você parte do princípio de que eles conseguem vencer a Suécia neste sábado.

Eu acredito que eles possam passar pela Suécia, no sábado, nas oitavas. Sabemos que não será um jogo fácil, mas acho que eles têm condições sim de passar pela Suécia e depois jogar contra uma Argentina, quem sabe.

E quem consegue barrar a Argentina? A Alemanha?

Se os dois chegarem às quartas-de-final, vai ser um excelente jogo. A Argentina, do meu ponto de vista, até ontem era a melhor seleção, que jogou o melhor futebol, que soube atacar e se defender muito bem. O Brasil ontem mostrou sua cara de novo. Fico feliz por isso, que o Brasil tenha mostrado que está vivo ainda na competição. Mas a Argentina é difícil. Se possível, que Brasil e Argentina cheguem à final e aí vamos ver quem é o melhor. Eles estão com uma excelente equipe e eu acho muito difícil no momento alguém ganhar da Argentina.

Leia mais: O que Élber diz sobre a seleção de Gana, adversária do Brasil nas oitavas-de-final.

Como você avalia a participação africana neste mundial?

WM 2006 - USA - Ghana
Seleção brasileira sabe pouco da equipe de Gana, diz ÉlberFoto: AP

O que deu pena foi a Costa do Marfim, que fez excelentes jogos. É triste que eles tenham caído num grupo muito difícil, com a Holanda e a Argentina. Mas com o futebol e a raça que eles mostraram em campo, conquistaram muitos pontos positivos na Copa do Mundo. É uma pena que não tenham chegado às oitavas-de-final. Agora tem Gana, que na sua primeira participação numa Copa do Mundo chega às oitavas-de-final e tem a possibilidade de jogar contra o Brasil, uma equipe mundialmente conhecida. Acho que isso é uma motivação muito grande para os jogadores de Gana, até para o meu amigo Kuffour. A gente espera sempre que seleções da África cheguem um pouco mais longe. Só que desta vez vou torcer para o Brasil, não por Gana, como vinha torcendo. Togo, infelizmente, trouxe para a Alemanha os problemas de sua federação de futebol e isso prejudicou muito a imagem deles. A gente espera que o Brasil saiba aproveitar os erros que possam acontecer na seleção de Gana para ganhar o jogo. Mas será um jogo difícil.

Os jogadores de Gana já falam que farão o jogo "dos brasileiros da África contra o Brasil de verdade". Gana vai dar trabalho para o Brasil?

É um adversário que pode dar muito trabalho. A maioria de seus jogadores atua na Europa, conhecem muito bem os brasileiros. E não se pode dizer que os jogadores brasileiros conheçam bem a equipe de Gana. Esse já é um ponto a favor dos africanos. Mas numa Copa do Mundo, nas oitavas-de-final, são pequenos detalhes que podem decidir o jogo.

Se você fosse um dos convocados de Parreira, que precauções tomaria para evitar uma eventual surpresa de Gana?

Acho que o Brasil tem de jogar como sempre jogou, para o ataque. É a seleção de Gana que tem de se preocupar mais com a seleção brasileira. Temos de tentar jogar ofensivamente e tentar marcar o 1 a 0 logo no começo, que aí impõe um pouco mais de respeito.

E Portugal é uma equipe que se deve ter em conta nesta Copa?

Portugal é uma seleção que pode chegar às quartas ou semifinais sem problema nenhum. É uma seleção que está jogando bem, tem um excelente treinador, que, quando chega no mata-mata, sabe como jogar para ganhar. Mas Portugal continua sendo o favorito secreto.

Quais são as diferenças entre a forma como o Felipão conduziu o Brasil há quatro anos e o atual comando de Carlos Alberto Parreira?

Acho que não tem muita diferença porque os jogadores são quase todos os mesmos. Houve pouca mudança na seleção brasileira. Os trabalhos que o Felipão fez e o Parreira está fazendo são praticamente iguais. São dois treinadores que têm um grande currículo e muita experiência internacional.

Leia mais: As críticas à bola, ao gramado e à arbitragem da Copa

Há pelo menos três coisas que estão sendo objeto de reclamação na Copa: a bola, o gramado e a arbitragem. O que o atacante Élber diz das críticas dos goleiros de que a bola os engana, principalmente nos chutes de longa distância?

WM 2006 - Ein Spielball Ball Fußball
Jogadores não foram perguntados por projetistas da bola da CopaFoto: picture-alliance / dpa

A bola é igual para todo mundo. Fizeram uma bola toda especial, mas não consultaram os jogadores. Isso é lamentável, porque quem faz o espetáculo dentro de campo são os jogadores. Mas acho que isso não é o problema. Os torcedores querem ver gols. Acho que os goleiros têm de estar preparados para qualquer bola, gramado ou campo.

No caso do gramado, nota-se que os jogadores estão escorregando muito.

Na Alemanha, que eu conheço, porque joguei muito tempo aqui, os gramados são muito bons, nunca tiveram os problemas que estão acontecendo agora na Copa do Mundo. Só que na Copa a Fifa pede que todos os gramados sejam trocados, e isso é um absurdo. Acho que o gramado tem de ser aquele que o estádio sempre teve. Agora, se coloca um gramado novo, em quatro semanas ele não está 100%, tem jogo em cima, um atrás do outro. Então acontece o que está acontecendo, que muitos jogadores estão escorregando, até se lesionando por causa do gramado. Isso é um erro que a Fifa cometeu.

Os árbitros têm sido criticados por puxarem o cartão amarelo muito rápido. O que você acha dessa crítica?

Hoje em dia, os árbitros estão sendo muito observados pela imprensa e são criticados por qualquer coisa. Mas há alguns que cometeram erros absurdos. São muito rápidos em dar cartão. Às vezes, acontece uma falta que nem seria amarelo, mas o árbitro tem de dar cartão vermelho para o jogador, porque já tinha dado amarelo antes. Acho que, se o árbitro não souber levar o jogo numa boa, sem dar cartão à toa, ele pode decidir a Copa do Mundo.

Bundesliga nunca mais?

Quanto ao seu futuro: seu contrato com o Cruzeiro vai até o final do ano. Já tem planos para depois?

Não, ainda não. Primeiro, fico no Cruzeiro até dezembro, vou procurar ganhar o título, que é o Campeonato Brasileiro. E depois começo a pensar na minha vida.

Pensa num retorno à Bundesliga?
Não mais.

Por que?

Já a foi a época de atuar na Bundesliga. Foi muito bom, me diverti muito. Depois teve o período no Borussia Mönchengladbach, onde fiquei um pouco triste por tudo que aconteceu. Agora, com 34 anos, não penso mais em jogar na Bundesliga. Claro, a gente nunca sabe o que vai acontecer. Mas o primeiro plano é ficar no Brasil com o Cruzeiro e depois ver o que pode acontecer.

Fazer carreira como técnico seria uma opção?

Nunca. De maneira alguma. É um trabalho muito duro, difícil, que eu não quero.

No dia 8 de agosto próximo você terá um jogo de despedida no Bayern de Munique. Você se imaginar exercendo alguma função no Bayern, se fosse convidado?

Sim, isso poderia imaginar. Creio que não teria problema para trabalhar com eles. Conheço bem o clube e os torcedores, que me conhecem. Mas até agora não há nenhuma proposta neste sentido.