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ClimaEstados Unidos

Energias fósseis: O que esperar do novo mandato de Trump?

Martin Kuebler
20 de janeiro de 2025

Donald Trump está de regresso à Casa Branca para um segundo mandato e promete mudanças significativas no que diz respeito ao ambiente, desde cortes orçamentais ao aumento da extração de combustíveis fósseis.

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Presidente eleito norte-americano, Donald Trump
Trump toma posse esta segunda-feira (20.01) e promete anular leis sobre o climaFoto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance

Durante a campanha eleitoral e desde a sua reeleição, Donald Trump prometeu aumentar a exploração de combustíveis fósseis, cancelar os créditos fiscais para veículos elétricos e projetos de energia limpa, revogar as regulamentações ambientais e recuperar os fundos não utilizados do que apelidou de "novo golpe verde", uma legislação climática histórica aprovada pelo Presidente cessante Joe Biden.

A retórica de Trump ecoas muitas das propostas delineadas no Projeto 2025, um manual de 900 páginas publicado pela Fundação Heritage, uma organização norte-americana ultraconservadora de investigação de políticas públicas, com sede em Washington, D.C..

Embora Trump se tenha distanciado publicamente do plano, vários dos seus autores foram agora nomeados para cargos importantes. Entre eles, Russ Vought, que, como responsável máximo pelo orçamento, ajudará a definir as prioridades da administração e que, no Projeto 2025, sublinhou a importância primordial da "agenda do Presidente".

"Uma administração muito destrutiva"

"Não duvidamos que esta vai ser uma administração muito destrutiva", diz Rachel Cleetus, diretora de política climática e energética da União de Cientistas Preocupados (UCS), uma organização ambientalista sem fins lucrativos, sediada nos EUA. "Ela é anti-ciência na sua essência".

Cleetus diz que ainda não viu qualquer indicação do novo Executivo de que vai utilizar a investigação climática aprovada para "ajudar a orientar a elaboração de boas políticas" e agir no "interesse público", salientando que muitos dos nomeados por Trump não têm sequer a experiência mais básica para o cargo.

"Em vez de pareceres independentes e técnicos, existe uma grande lealdade, quase de culto, a um Presidente que adotou uma postura muito firme contra as energias limpas e que está completamente comprometido com os interesses dos combustíveis fósseis", afirmou em entrevista à DW.

Cortes orçamentais e leis enfraquecidas

O escolhido por Trump para dirigir a Agência de Proteção do Ambiente (EPA), o antigo congressista nova-iorquino Lee Zeldin, opôs-se sistematicamente à proteção do ambiente e ao investimento em energias limpas durante o seu mandato.

O Presidente eleito afirmou, em novembro, que Zeldin ajudará a "libertar o poder das empresas americanas, mantendo ao mesmo tempo os mais elevados padrões ambientais, incluindo o ar e a água mais limpos do planeta".

"Fracking" na Dacota do Norte, nos EUA
Donald Trump apoia a extração de combustíveis fósseisFoto: Matthew Brown/picture alliance

Como diretor da EPA, espera-se que Zeldin cancele rigorosas regras introduzidas pela administração Biden para controlar a poluição do ar e da água ou a extração de combustíveis fósseis - uma repetição do que Trump ordenou que a EPA fizesse quando substituiu Barack Obama em 2017.

"Falam de ar puro e de água limpa, mas estão a planear rever todas estas normas de poluição [...] especificamente concebidas para proteger a saúde das pessoas e o ambiente", diz Cleetus.

Mandy Gunasekara, chefe de gabinete da EPA durante a primeira Presidência de Trump e um dos autores do Projeto 2025, disse ao jornal norte-americano The New York Times, em outubro, que o plano para o segundo mandato de Trump seria "destruir e reconstruir" as suas estruturas.

Restaurar a independência energética

Um dos pontos principais da campanha de Trump foi a promessa de intensificar a extração de combustíveis fósseis que aquecem o planeta - um setor que já obteve lucros recorde nos últimos anos. Tal como o Projeto 2025, Trump falou em restaurar a independência energética dos Estados Unidos e prometeu aos eleitores "reduzir os preços da energia para metade".

Chris Wright, um cético quanto ao clima e nomeado por Trump para dirigir o Departamento de Energia, é diretor executivo da Liberty Energy, uma empresa de produção de eletricidade centrada no gás natural. Wright tem elogiado entusiasticamente os benefícios de hidrocarbonetos como o carvão, o petróleo e o gás, afirmando num relatório da empresa de janeiro de 2024 que "não existe energia 'limpa' nem 'suja'".

Projetos de energia renovável em risco

Trump quer anular as regras federais para reduzir as emissões dos veículos e conceder milhares de milhões de créditos fiscais ao consumidor para projetos de energia limpa e carros elétricos, parte da Lei de Redução da Inflação (IRA) de 2022 de Biden - apesar de os projetos terem criado dezenas de milhares de novos empregos nos últimos anos.

No entanto, os analistas do setor acreditam que não será fácil destruir a IRA. Alguns dos fundos já estão investidos em projetos por todo o país e, apesar das críticas republicanas à legislação, os empregos bem remunerados contam com algum apoio bipartidário.

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Salientando o boom das energias renováveis em países como a China, a Índia e o Brasil, Cleetus afirma que qualquer inversão das disposições da IRA seria "destrutiva" e que "os EUA seriam deixados para trás nesta revolução global das energias limpas", com as cadeias de abastecimento a serem criadas noutros locais.

Questões climáticas difíceis de ignorar

Embora a série de alterações previstas por Trump tenha preocupado os especialistas em ambiente, Cleetus acredita que nada acontecerá de um dia para o outro. "Há muitas coisas que não podem ser anuladas apenas com o toque de uma caneta", diz.

Na opinião de Cleetus, mesmo com Trump a planear uma série de ordens executivas no seu primeiro dia, que não necessitariam de aprovação do Congresso, a legislação ou os desafios legais podem atrasar a sua entrada em vigor.

"O clima tornou-se uma questão de primeira ordem na diplomacia mundial", afirma, salientando as relações cada vez mais complexas com o comércio, a segurança e os temas económicos. "Muitos países em desenvolvimento e países de baixo rendimento estão a enfrentar impactos absolutamente catastróficos das alterações climáticas. Por conseguinte, os EUA terão dificuldade em separar os seus interesses geopolíticos das questões climáticas", conclui Rachel Cleetus, diretora de política climática e energética da (UCS).