Coreia do Sul: Parlamento faz cair Lei Marcial
4 de dezembro de 2024O Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, anunciou na noite de terça-feira (03.12) a decisão: "A partir das 11 horas da noite de ontem, declarei a Lei Marcial de emergência com o objetivo de salvar o país contra as forças anti-estatais que querem paralisar as funções essenciais do Estado e colapsar a democracia liberal e a ordem constitucional”.
Passadas umas horas, o Presidente sul-coreano decidiu levantar a medida, após a Assembleia Nacional se reunir de emergência e votar na maioria contra a declaração da Lei Marcial no país.
"Retirámos as forças armadas que tinham sido postas em ação pela Lei Marcial há pouco tempo, porque a Assembleia Nacional exigiu que a Lei Marcial fosse levantada", justificou Yoon Suk Yeol.
O estadista garantiu ainda que o " Conselho de Ministros aceitará imediatamente as exigências da Assembleia Nacional e levantará a Lei Marcial”.
Há 45 anos que não se via este cenário político. A última vez que a Lei Marcial havia sido decretada na Coreia do Sul remonta a 1979, após o assassinato do Presidente Park Chung-hee.
População assustada
Após o anúncio que chocou o país, inúmeras pessoas cercaram a Assembleia Nacional, na capital Seul, suportando temperaturas negativas para protestar contra a decisão do Presidente sul-coreano.
Em declarações à agência AFP, jovens lamentam ter vivido, até por breves momentos, um cenário que só conheciam pelos livros de história.
"Quando cheguei aqui e me dirigi ao portão das traseiras da Assembleia Nacional, vi soldados reunidos. Vi soldados reunidos e helicópteros a aparecer, e tenho muita pena que as situações que só vi nos manuais escolares tenham acontecido assim em 2024, e tenho a sensação de que não quero sentir o medo que senti [quando li nos manuais escolares] na minha vida quotidiana”, conta um jovem.
"Penso que devo dar um passo em frente e agir como cidadão do país. Coisas como esta nunca deveriam acontecer. Parece que estamos a regressar à era da ditadura. Penso que não é correto o Presidente Yoon agir unilateralmente”, opina outro jovem.
Dedo acusador contra o Presidente
Apesar de não tardar a revogar a sua decisão, o Presidente Yoon Suk Yeol não poderá apagar os efeitos imediatos que se fazem sentir na vida política do país. A oposição, em maioria na Assembleia Nacional, pede a demissão do Presidente.
Jo Seung-lae, deputado do Partido Democrático, principal partido da oposição diz que "é uma situação em que a violação da Constituição e da lei por parte do Presidente está a tornar-se clara. E o Presidente está a cometer um crime grave que constitui uma rebelião”, acusa.
Já a professora e analista política, Celeste Arrington, da Korea Foundation Associate Professor of Political Science and International Affairs at the George Washington University, afirma que esta decisão retrata um político inexperiente.
"Trata-se de uma medida extrema que pode ser um sinal, penso eu, da falta de experiência política do Presidente. Como nunca ocupou um cargo eletivo, talvez se sinta frustrado com a forma como a política está a decorrer na Coreia do Sul e recorra a estas medidas extremas e possivelmente ilegais”, considera.
A Casa Branca declarou-se "aliviada" com o facto de o Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, ter levantado a Lei Marcial declarada algumas horas antes.