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Estará a FRELIMO a perder o controle da situação?

6 de dezembro de 2024

Membro da FRELIMO desconfia que até quarta-feira próxima "ninguém tenha controle sobre ninguém" no país. Sobre o aspirado diálogo de paz, Teodoro Waty diz: "doa a quem dor, o Venâncio não pode ser ignorado na solução".

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Moçambique - protestos em Maputo 2024
"Só um distraído não vê que a situação do país está mal, não apenas em Maputo”, afirma Teodoro Waty, que diz que Moçambique está a caminhar para um caosFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

O povo moçambicano começou a fazer cair tudo o que simboliza o poder da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Hoje foi derrubada a estátua de Alberto Chipande no seu bastião. Há dias, incendiaram as sedes do partido, retaliaram polícias assassinos e até estão a atacar o investimento estrangeiro vital para governação, como a Kenmare em Nampula.

A governação parece estar a ser inviabilizada. Teodoro Waty, membro sénior do partido no poder há quase 50 anos, advinha que o país esteja a caminhar para uma verdadeira anarquia.

"Só um distraído pode não ver que a situação do país está mal. Não é apenas em Maputo, está a caminhar para um caos, para uma verdadeira anarquia”, afirma o político entrevistado pela DW. "Não bastam comícios para reafirmar a vitória ou manifestações para exigir a verdade eleitoral", enfatiza.

A realização de um diálogo para resolver a crise política é quase consensual, embora haja divergências sobre os seus moldes. Estão todos afetados com os protestos.

"Venâncio não pode ser ignorado na solução”

O candidato presidencial supostaemente mais votado nas eleições de 9 de outubro manifestou prontidão para isso, depois de ter boicotado recentemente o convite do Presidente da República, Filipe Nyusi, para o fazer. Enquanto se assiste a esse "chove e não molha”, o país dá sinais de estar a caminhar para o descalabro.

Waty considera que é urgente levar a sério Venâncio Mondlane. "Temos de lançar mãos à obra para pacificar [o país]. O Governo, sem recorrer a qualquer tipo de mão de ferro, através de partidos e igrejas, pode ajudar a serenar os ânimos”, aconselha.

Moçambique - protestos em Maputo - 2024
Os ânimos estão mais do que exaltados nesta quarta fase de protestos. Segundo Waty, alguns agentes mal recompensados até já cruzam os braços e povo destemido já entrega o peito às balasFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

"Se tudo o que está a acontecer tem a mão do Venâncio, se o Venâncio é o verdadeiro problema, o criador dos problemas, doa a quem dor, o Venâncio não pode ser ignorado na solução”, insiste, mas deixando um aviso. "Não se deve esperar pela quarta-feira [quando termina a tual fase de protestos] da próxima semana".

Caos e desmandos

Moçambique tem um Presidente e um Governo, mas é aos comandos de Venâncio Mondlane que o povo obedece, inclusive as elites próximas ao partido libertador. Nesta quarta fase da quarta etapa de protestos os ânimos estão mais do que exaltados, alguns agentes mal recompensados pelo Governo até já cruzam os braços ou até acarinham os manifestantes. O povo destemido já entrega o peito às balas.

Restará alguma autoridade da FRELIMO depois deste cenário de guerra? Teodoro Waty receia que "até lá [quarta-feira], ninguém tenha controle sobre ninguém”. O político adverte contra o "caos” e "muitos comandos” sem "ninguém a obedecer”.

"Não podemos querer chegar ao Estado de sítio para repor a ordem, ainda vamos a tempo de mudar”, admite, porque – acrescenta – "quem ama Moçambique deve ficar triste e com vergonha bem estampada na cara".

Por último, o político defende ainda que se deve travar rapidamente esta incendiária fase dos protestos e receia com preocupação que até quarta-feira próxima "ninguém tenha o controle" da situação.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África