Moçambique prepara-se para mais protestos
29 de novembro de 2024As últimas 48 horas de protestosforam marcadas por barricadas nas ruas e cânticos do hino nacional de Moçambique, mas também de violência policial. Os números da ONG Plataforma Eleitoral Decide falam em pelo menos 67 mortos e pelo menos 210 pessoas baleadas desde 21 de outubro.
Os apelos de respeito pela vida humana de quem se manifesta, maioritariamente de forma pacífica, por transparência eleitoral, não deixam ninguém indiferente. Nos últimos dias, um vídeo nas redes sociais provocou consternação em Moçambique, ao mostrar um carro blindado militar a atropelar, em Maputo, uma manifestante.
Em comunicado, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique explicam que se tratou de um acidente e que a "viatura encontrava-se em missão de proteção dos objetos económicos essenciais, limpeza e desbloqueio das vias de circulação, no âmbito da manifestação pós-eleitoral".
À DW, o sociólogo, João Feijó, avalia este atropelamento como "uma forma gratuita de desvalorização completa do moçambicano e um desprezo enorme pela população humana".
"Estou profundamente chocado. Isto é uma atitude assassina perante uma manifestação. A polícia de Moçambique, que tem a função de proteger o cidadão, comporta-se como assassina de uma forma gratuita", comentou. "Isto aqui é matéria para o Tribunal Penal Internacional", acrescentou.
Após estes incidentes mais gravosos, as últimas horas em Moçambique, mais propriamente na capital, Maputo, foram marcadas por um ambiente menos exaltado.
Na quinta-feira (28.11), Venâncio Mondlane voltou às redes sociais para indicar o que se segue no seu plano de protestos contra os resultados eleitorais de 9 de outubro.
O candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS falou em direto para os apoiantes e apelou que os seus seguidores inundem a caixa de e-mail do Presidente da República, Filipe Nyusi, a pedir a demissão do chefe da PRM, Bernardino Rafael
"Amanhã 50 mil mensagens na caixa do Presidente da República a exigir a demissão imediata e incondicional do comandante geral da polícia, Bernardino Rafael", frisou.
Venâncio Mondlane abordou também a sua ausência da reunião da última terça-feira entre Filipe Nyusi e os candidatos presidenciais. Mondlane convida o Presidente moçambicano para uma conversa online.
"Há variadíssimas hipóteses e alternativas e virtuais para a gente conversar", disse.
No que toca aos resultados eleitorais, o candidato apoiado pelo PODEMOS fala de 60% de editais falsos e promete que as manifestações vão continuar.
"Descobrimos que 60% dos editais que a CNE usou para dar os 70% à FRELIMO eram falsos. E nos 40% dos editais verdadeiros, nós ganhámos a eleição com 53% de votos", garantiu.