Políticos nigerinos face à explosão demográfica no país
1 de março de 2016No próximo dia 20 de março o presidente cessante Mahamadou Issoufou e o principal político da oposição e ex-primeiro ministro Hama Amadou, vão disputar a segunda volta da eleição presidencial no Níger, um pleito já considerado inédito e atípico com dois homens que já foram aliados políticos em 2011, mas principalmente porque o segundo candidato se encontra preso no quadro de um controverso caso de tráfico de crianças. Hama Amadou foi forçado a fazer a sua campanha para a eleição a partir da sua prisão de Filingué, situada 180 km a norte da capital.
Os dois campos defendem melhores condições de vida para os cerca de 30 milhões de habitantes do país e muitos se interrogam como é que o país vai reagir à explosão demográfica que o atinge, e se o presidente que sair desse pleito terá um programa eficiente no sentido de criar condições no país para dar sustento e emprego a cada vez maior número de cidadãos.
Pílula anticoncecional não gera consenso na sociedade
No hospital de Banifandou, nos arredores de Niamey, Mariama Souley, mãe de um bebé de 9 meses, foi levantar a pílula anticoncepcional. Segundo ela, "a última caixa de pílulas que me deram aqui deu para três meses." Agora precisa de novos comprimidos: "Vim cá para receber uma nova caixa!"A pílula anticoncepcional não gera consenso na sociedade do Níger. Muitas mulheres, e sobretudo muitos homens, não querem que as mulheres a tomem. Mas este não é o caso de Mariama Souley, de 35 anos de idade. O seu marido sabe que ela usa o contracetivo e não tem nada contra, como deixa entender. “ Claro que falámos sobre o assunto. E ele aceitou que fosse regularmente ao hospital para receber a pílula. Na realidade, até foi o meu marido quem decidiu que não deveríamos ter mais filhos", diz Miriam Souley.
O casal Souley gosta muito de crianças, mas não dispõe de meios financeiros para sustentar mais filhos. Estes, dão muitas despesas, recorda Mariama: “precisam de ser alimentados e vestidos. E, claro, há despesas com a saúde e a educação no ensino básico e secundário, para não falar da universidade, caso o descendente opte por tirar um curso superior”.
Um aumento populacional de 3,9% anualmente
O sociólogo Issaka Maga Hamidou, da universidade Abdou Moumouni em Niamey, louva a mentalidade do casal Souley. Muitos casais do Níger não pensam de uma forma aberta e responsável. Pelo contrário: agem segundo a premissa: Quanto mais filhos melhor! E isso contribui para o crescimento demográfico do seu país: "O número de habitantes sobe em 3,9 por cento por ano. Isso quer dizer que, no Níger, cada mulher tem, em média, 7,6 crianças. Um récord mundial!"
O Estado situado na região do sahel tem notórias dificuldades em criar empregos para os pais e para os futuros adultos. No Níger sente-se falta de tudo: o país precisa de mais hospitais, mais escolas e mais casas. Mas a nível político pouco ou nada se tem feito para atenuar a situação.
Nesta campanha para as eleições de 20 de março também não se fala muito sobre a questão do crescimento demográfico, como afirma o sociólogo Issaka Maga Hamidou.
"O Níger é um país muito pobre, há mesmo quem afirme que o Níger é o país mais pobre do mundo. O crescimento económico é relativamente baixo, e isso torna difícil aos políticos apresentar medidas suscetíveis de estancar a explosão demográfica."
Desemprego atinge principalmente os jovens
A falta de dinheiro constitui um entrave aos investimentos e à criação de postos de trabalho. O desemprego alastra, sobretudo entre os jovens. E os supostos líderes religiosos também não contribuem para que as famílias deixem de ter muitos filhos. 80 por cento da população pertencem à comunidade muçulmana.Mahazou Mahaman, da organização 'Animas-Sutura', uma ONG que se ocupa de questões ligadas à saude e planeamento familiar, salienta que “muitos líderes religiosos não encaram o planeamento familiar com bons olhos. Dizem que restringir o número de filhos serve os interesses do ocidente em restringir o desenvolvimento do Níger. Não é fácil lidar com o tema. Por isso preferimos, no dia a dia, apresentar o problema de outra forma, nomeadamente, levantando a seguinte questão: como melhorar a saúde das mães e das crianças no país?"