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ConflitosSíria

Quem é o líder rebelde que derrubou Assad?

Kersten Knipp
9 de dezembro de 2024

Abu Mohammed al-Julani dirige o grupo radical islamita Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera a coligação de rebeldes na ofensiva contra o poder sírio. Qual o seu projeto para a Síria?

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Guerra civil na Síria: líder do HTS, Abu Mohammed al-Julani
Abu Mohammed al-Julani é o dirigente do grupo radical islamita Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera a coligação de rebeldes na ofensiva contra o poder sírioFoto: OMAR HAJ KADOUR/AFP/Getty Images

A ofensiva de grupos rebeldes que derrubou o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi liderada por Abu Mohammed al-Julani, de 42 anos, chefe do grupo islamista Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS em árabe).

"Esse regime está morto", disse Jolani numa recente entrevista à emissora norte-americana CNN. O seu objetivo declarado era derrubar Bashar-al-Assad, tal como reiterou na referida entrevista.

Mas antes, é preciso dizer que o HTS é a maior das milícias insurgentes que lutam na guerra civil da Síria. As suas origens estão na organização terrorista Al Qaeda. A referida organização também é considerada um grupo terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela Turquia.

Em 2011, quando começaram as revoltas populares contra Assad, no âmbito da chamada Primavera Árabe, o grupo era conhecido como Frente Al Nusra, então o braço da Al Qaeda na Síria.

Para alcançar o objetivo de derrubar Assad, Jolani procurou, nos últimos anos, refazer a imagem da Organização para a Libertação do Levante, cortando os laços com a Al Qaeda, em 2016. Para isso, afastou-se dos chamados "linhas-duras" e prometeu abraçar o pluralismo e a tolerância religiosa.

No âmbito do esforço para suavizar a sua imagem e parecer mais moderado, Abu Mohammed al-Julani abandonou, gradualmente, o turbante jihadista que usava no início da guerra civil da Síria, em 2011, optando por um uniforme militar.

"Os insurgentes abandonaram as suas antigas táticas jihadistas. Julani tirou o seu manto islâmico e apresentou-se ao mundo por intermédio das suas entrevistas. Ele fala mais suavemente e tenta usar o vocabulário de um estadista", observa o especialista militar egípcio Mohamed Abdel Wahed.

Reina ceticismo

Com a queda de Assad, Jolani está agora no centro das atenções, fazendo declarações e dando entrevistas à imprensa internacional. No entanto, durante anos, Jolani atuou nas sombras.

Mas até que ponto a Síria será efetivamente livre? As atenções centram-se sobretudo no líder da milícia islamista HTS, que controla atualmente o país. E como é que ele encara o futuro da Síria?

Há várias opiniões sobre o assunto. O HTS teve uma longa evolução, disse à DW, há alguns dias, o especialista em Síria André Bank, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo.

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Jolani já se tinha distanciado da Al-Qaeda há alguns anos. É também considerado um opositor da organização jihadista Estado Islâmico. Isto significa que não está numa missão contra o Ocidente, mas que se concentra na Síria. É possível que esteja agora a trabalhar para uma ordem salafista.

Entretanto, o próprio al-Jaulani está a dar sinais de moderação. Durante a ofensiva contra Alepo, apelou a que os cristãos e as minorias fossem poupados.

Numa entrevista ao canal de notícias norte-americano CNN, explicou que queria construir instituições estatais que incluíssem todos os grupos sociais do país. O facto de não ter havido violência contra as minorias até agora é um "sinal de esperança”, disse à DW o especialista em Síria James Dorsey, do Instituto do Médio Oriente em Washington.

Já o antigo embaixador alemão em Damasco, Andreas Reinicke, mostrou-se mais cético. O HTS ainda está enraizado na ideologia da Al-Qaeda. O futuro das minorias cristãs e curdas na Síria está, por isso, em risco, disse à Agência Católica de Notícias (KNA).

Especialistas e os governos ocidentais não estão convencidos relativamente à sua moderação. Para eles, o HTS – grupo islâmico Organização de Libertação do Levante – continua a ser um grupo terrorista. O pesquisador francês Thomas Pierret, do instituto de pesquisas CNRS, chama-lhe de "radical pragmático".

Por seu lado, os Estados Unidos ainda oferecem uma recompensa de 10 milhões de dólares por informações que levem à captura de Jolani.

Um realista aos olhos de seus partidários e um oportunista na opinião de seus adversários, Jolani tem, segundo Pierret, procurado traçar um caminho para se tornar um estadista confiável.

Posição da ONU

Em janeiro de 2017, Julani impôs uma fusão do HTS com grupos islâmicos rivais no noroeste da Síria, reivindicando assim o controle de áreas da província de Idlib que haviam saído das mãos do governo.

Nas áreas sob o seu controle, o HTS criou um governo civil com aparência de Estado. Mas, ao mesmo tempo, não tolerou posições contrárias e reprimiu rivais rebeldes.

Por isso, o HTS enfrentou acusações de moradores e grupos de direitos humanos de abusos brutais contra aqueles que ousaram discordar. A Organização das Nações Unidas (ONU) classificou tais atos de crimes de guerra, uma vez que o HTS estaria por trás do desaparecimento de ativistas.

Talvez ciente do medo e do ódio que o seu grupo provoca, Julani assegurou aos moradores de Aleppo, onde vive uma considerável minoria cristã, que não sofreriam nenhum dano sob seu novo regime.

Origens e conversão

Abu Mohammed al-Julani nasceu em 1982 em Ryad, na Arábia Saudita, dentro de uma família abastada. Em 1989 a família retornou à Síria, tendo Julani sido criado em Mazzeh, um bairro nobre de Damasco.

Abu Mohammed al-Jolani, líder da Frente Nusra
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, Jolani, então líder da Frente Nusra, foi atraído pelo pensamento jihadista, tendo demonstrado admiração pelos terroristas autores daquele atoFoto: Orient News TV Handout/dpa/picture alliance

O pai trabalhava nas instalações de petróleo sauditas e era um opositor secular do regime da família Assad. Ele passou muitos anos nas prisões sírias antes de se exilar na Arábia Saudita.

Durante a recente ofensiva rebelde, Julani deixou de lado o nome de guerra e começou a assinar as suas declarações com seu nome verdadeiro, Ahmed Hussein al-Shara.

Em 2021, Julani disse a uma emissora americana (PBS) que o seu nome de guerra era uma referência às raízes de sua família nas Colinas de Golã, alegando que o seu avô havia sido forçado a fugir após a anexação da área por Israel, em 1967.

De acordo com o site de notícias Middle East Eye, foi após os ataques de 11 de setembro de 2001 que Julani foi atraído pelo pensamento jihadista, tendo demonstrado admiração pelos terroristas autores daquele ato. Segundo o referido site, foi então que ele começou a participar de sermões secretos e painéis de discussão nos subúrbios marginalizados de Damasco.

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