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Drama documentado

5 de agosto de 2011

Depois de 69 dias soterrados e resgate comovente, mineiros no Chile ganharam fama. Um ano após a tragédia, problemas de saúde e dificuldades financeiras marcam a vida dos sobreviventes.

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Luis Urzua (centro), mineiro resgatado, e presidente Piñera (d)Foto: AP

Há um ano, o mundo começava a acompanhar, em parte ao vivo, um drama humano vivido a 700 metros de profundidade. Em 5 de agosto de 2010, o desabamento da mina de ouro e cobre San José, na cidade de Copiapó, no norte de Chile, foi registrado como um dos mais graves acidentes do tipo. Dos trabalhadores em atividade no local naquele momento, 240 voltaram à superfície, mas 33 não conseguiram escapar a tempo.

Nunca antes seres humanos sobreviveram por tanto tempo a tal profundidade. Começava ali a história do longo isolamento subterrâneo com final feliz. Por meio de mensagens gravadas pelos mineiros e que chegavam à equipe de resgate, milhares de telespectadores de todo o mundo acompanharam a operação, que durou 69 dias. Foi só em 13 de outubro de 2010 que os trabalhadores voltaram a ver a luz do dia.

Logo depois do acidente, os 33 homens passaram 17 dias sem saber se seriam ou não resgatados – sobreviveram a uma temperatura superior a 30º Celsius, se alimentando com um pouco de atum e leite armazenados na sala de proteção subterrânea, onde ficaram isolados.

Só depois que um estreito túnel, perfurado pela equipe de resgate em 22 de agosto, alcançou o local onde estavam é que se tomou conhecimento dos sobreviventes. Eles haviam mandado um bilhete que dizia: "Estamos bem. Estamos na área de proteção. Os 33". Os trabalhadores passaram a receber então alimentação, água, remédio e ar fresco.

Juan Carlos Aguilar Chile Minenarbeiter
Juan Carlos Aguilar, mineiro resgatado: assédio da mídiaFoto: AP

Retrato atual

Ao fim da operação, o grupo foi recebido com festa pela família, jornalistas e espectadores que acompanharam sua história. Nos meses que se seguiram, muitos viajaram pelo mundo dando entrevistas, participando de maratonas famosas, conhecendo grandes personalidades – como Bento 16 e Dalai Lama.

Nesta sexta-feira (05/08), perto da mina onde ocorreu o acidente, o presidente do Chile, Sebastian Piñera, inaugurou um museu em homenagem aos sobreviventes. Também estão sendo produzidos três filmes sobre o resgate dos 33 homens.

Mas hoje as condições daqueles trabalhadores não são dignas de comemoração: muitos estão desempregados, alguns voltaram a trabalhar em minas. Mario Gomez, um dos mineiros, diz que há quem pense que o grupo ficou milionário. "Isto está completamente errado. Eu recebo apenas a pensão de saúde. São 650 mil pesos", cerca de mil euros, afirma Gomez sobre o dinheiro que recebe mensalmente.

Dos 33 trabalhadores, 14 deram entrada ao pedido de aposentadoria precoce. Eles sofrem de instabilidade emocional, ainda não conseguiram se recuperar do trauma, têm problemas com álcool, ataque de pânico e não conseguem dormir. Apenas um deles, o extrovertido Mario Sepulveda, que ao chegar à superfície cantou "Chi-chi-chi le-le-le", teve um destino mais bem-sucedido: ele trabalha como consultor de empresas, principalmente nos Estados Unidos.

Devido ao desabamento da mina, o proprietário que explorava o ouro no local declarou falência. Os mineiros estão processando a massa falida e pedem uma indenização de 7 milhões de euros na justiça. A aposentadoria de 300 euros mensais prometida por Piñera ainda esbarra na burocracia chilena.

Zur Rettung der Kumpels verwendete Kapsel beim Grubenunglück in Chile
Equipamentos usados na operação de resgate dos mineirosFoto: AP

"Nunca mais"

O governo chileno mobilizou fornecedores de equipamento de diferentes partes do mundo para resgatar os mineiros – foram feitas três tentativas diferentes para escavar um túnel e trazer os trabalhares de volta à superfície. Inclusive especialistas em assistência a astronautas da Nasa, agência espacial norte-americana, colocaram-se à disposição.

Mas só com a ajuda da cápsula Fênix 2 o resgate foi bem-sucedido. O equipamento foi desenvolvido com base na chamada bomba de Dahlbusch, criado em 1955 na Alemanha. O percurso de cada um dos mineiros até a superfície durou entre 24 e 84 minutos. Florencio Avalos, de 31 anos, que trabalhava como assistente, foi o primeiro a ser transportado pela cápsula.

Sobre o retorno ao trabalho como mineiro, Mario Gomez está decidido: "Não, nunca mais".

NP/dw/dapd/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer