Alemanha em choque com ataque mortal o mercado de Natal
21 de dezembro de 2024O chanceler alemão Olaf Scholz deslocou-se a Magdeburgo, local do ataque no mercado de Natal ocorrido na sexta-feira (20.12). Descrevendo o ataque como um "ato terrível", Scholz recapitulou o número de vítimas mortais, que subiu para cinco, e destacou que mais de 200 pessoas ficaram feridas.
"Que ato terrível é ferir e matar tantas pessoas com tamanha brutalidade", afirmou.
Scholz referiu ainda que mais de 40 pessoas estão "em estado crítico" e acrescentou que as autoridades estão "muito preocupadas com elas". "Eu, como chanceler, falo em nome de todos os que têm responsabilidades neste país para expressar as nossas condolências", disse.
O chanceler apelou à união do país face ao ódio. "Devemos permanecer unidos, e permaneceremos unidos no rescaldo deste ato", declarou em conferência de imprensa.
Scholz prestou também homenagem aos primeiros socorristas, referindo que estes "preveniram uma tragédia ainda maior". Por fim, apelou à aplicação da justiça com todo o rigor da lei para responsabilizar o autor do ataque.
Segundo informações dos meios de segurança, citados pela Primeira Estação de Televisão Alemã (ARD), o número de feridos ascende a 200, 41 dos quais em estado muito grave.
O Mercado de Natal em Magdeburgo foi encerrado após o ataque. "Estamos profundamente consternados, e os nossos corações e pensamentos estão com as vítimas, os seus familiares e os socorristas", disseram os organizadores ao anunciar o encerramento.
De acordo com um porta-voz da cidade, o Mercado de Natal estava originalmente programado para permanecer aberto até 29 de dezembro.
Quem é Taleb A.?
Os motivos do crime, perpetrado por um médico saudita de nome Taleb A., não são claros. Os meios de comunicação social alemães apontam para uma motivação islamofóbica.
A vida de Taleb A, segundo meios de comunicação como a revista "Der Spiegel" e o diário "Frankfurter Rundchau", inclui o abandono da fé muçulmana e o ativismo a favor das mulheres sauditas.
É também descrita a sua declarada simpatia pela Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, e por teorias sobre um alegado plano para islamizar a Europa, concebido, segundo ele, pela ex-chanceler Angela Merkel.
Taleb A. chegou à Alemanha em 2006, como estudante, e obteve asilo em julho de 2016, depois de ter sido ameaçado de morte por se ter afastado do Islão.
Viveu e trabalhou como psiquiatra em Bernburg, uma pequena cidade de 32.000 habitantes, na margem do rio Saale, entre Magdeburg e Halle.
Como ativista, informava e aconselhava mulheres sauditas sobre as possibilidades de fugirem do seu país, e tinha uma página na 'internet' com informações sobre o sistema alemão de asilo.
Numa entrevista concedida ao Frankfurter Rundschau, em 2009, afirmou que muitas mulheres sauditas o procuraram, em busca de proteção, depois de terem sido violadas pelo homem de quem dependiam.
Nessa entrevista, afirmou que o sistema de asilo alemão era um caminho para a liberdade destas mulheres.
A partir de certa altura, o distanciamento em relação ao Islão transformou-se numa rejeição aberta da política migratória alemã.
Em novembro, publicou na sua conta na rede social X uma mensagem com "quatro exigências da oposição saudita" e afirmou que a Alemanha tinha que proteger as suas fronteiras da migração ilegal.
Em seguida, acusou Merkel de ter um plano para islamizar a Europa com a sua política de fronteiras abertas.
Em outras publicações nas redes sociais, mostrou simpatia pela AfD, porque disse que era o único partido que lutava contra o Islão na Alemanha.
Taleb A. queria fundar, juntamente com a AfD, uma academia para ex-muçulmanos na Alemanha, de acordo com o "Der Spiegel".
Há apenas uma semana, foi difundida uma entrevista sua, num blogue islamófobo dos Estados Unidos, na qual afirmava que o Estado alemão tinha uma operação secreta para perseguir ex-muçulmanos sauditas em todo o mundo e, ao mesmo tempo, concedia asilo a 'jihadistas' sírios.
Numa outra mensagem no X, que foi posteriormente apagada, anunciou vingança, segundo o diário "Die Welt".
De acordo com o jornal local "Magdeburger Zeitung", Taleb A esteve ausente do trabalho nas últimas semanas, devido a uma baixa médica.