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CriminalidadeAlemanha

Extrema-direita alemã convoca marcha contra atentado

nn | com agências
23 de dezembro de 2024

O partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) convocou uma marcha de luto para esta segunda-feira (22.12) à tarde em Magdeburgo, onde cinco pessoas morreram e 200 ficaram feridas num atentado.

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Polícia patrulha área onde ocorreu o atropelamento mortal em Magdeburg na sexta-feira
Polícia patrulha área onde ocorreu o atropelamento mortal em Magdeburg na sexta-feiraFoto: Sebastian Kahnert/dpa/picture alliance

A convocatória para o evento levou outros grupos e forças políticas a apelarem a uma contramanifestação sob o lema: "não vamos dar hipótese ao ódio". Estes movimentos apelam à população para que criem uma cadeia humana em torno do local do ataque.

A marcha de luto da AfD contará com a presença de Alice Weidel, cabeça de lista às eleições legislativas antecipadas, marcadas para fevereiro.

"O que precisamos agora não é de frases cliché, mas de uma linguagem clara. Quem veja as coisas assim, deve vir esta tarde a Magdeburgo juntar-se a Alice Weidel", apela a convocatória divulgada na rede social X.

"Encontraremos as palavras certas, teremos um minuto de silêncio e, finalmente, faremos uma marcha de luto para mostrar as nossas emoções", acrescenta.

Ataque violento seguido de detenção

Na sexta-feira (20.12), um homem, depois identificado como Taleb A., atropelou transeuntes no mercado de Natal daquela cidade do leste da Alemanha, provocando a morte de pelo menos cinco pessoas e ferindo mais de 200, dos quais cerca de 40 com gravidade.

O Gabinete Federal Alemão para a Migração e Refugiados (BAMF) confirmou posteriormente que tinha recebido um alerta sobre o suspeito em 2023 e a ministra do Interior, Nacy Faeser, revelou que o indivíduo era islamofóbico, afastando suspeitas de um ataque com motivações religiosas islâmicas, ainda que as razões permaneçam por apurar.

Centenas de pessoas reunidas junto à igreja de Magdeburg no domingo
Centenas de pessoas depositaram flores junto a uma igreja de Magdeburg em memória das vítimas do ataque de sexta-feiraFoto: Ebrahim Noroozi/AP/picture alliance

Em visita ao local do atentado com vários ministros do seu Governo, incluindo Nancy Faeser, o chanceler, Olaf Scholz, apelou à unidade nacional depois de um ataque que classificou como louco, tendo o presumível autor, um homem de 50 anos que reside na Alemanha desde 2006, sido detido pela polícia pouco depois do atropelamento mortal. Scholz prometeu "agir contra aqueles que querem semear o ódio".

Embora a liderança da AfD, incluindo Weidel, tenha sido cautelosa a comentar o atentado e eventuais significados, outros políticos do partido aproveitaram o ataque para reiterar as suas exigências de uma mudança radical na política de imigração.

Segundo acusaram alguns membros do partido, que já foram acusados em inúmeras ocasiões de terem um discurso puramente xenófobo, o ataque mortal revelou "os perigos da atual política migratória" promovida pelo Governo alemão.

O comício está marcado para as 17:00 (hora local) na Domplatz (Praça da Catedral).

Quem é Taleb A.?

Taleb A. chegou à Alemanha em 2006, como estudante, e obteve asilo em julho de 2016, depois de ter sido ameaçado de morte por se ter afastado do Islão.  

Viveu e trabalhou como psiquiatra em Bernburg, uma pequena cidade de 32.000 habitantes, na margem do rio Saale, entre Magdeburg e Halle.

Como ativista, informava e aconselhava mulheres sauditas sobre as possibilidades de fugirem do seu país, e tinha uma página na 'internet' com informações sobre o sistema alemão de asilo.

Numa entrevista concedida ao Frankfurter Rundschau, em 2009, afirmou que muitas mulheres sauditas o procuraram, em busca de proteção, depois de terem sido violadas pelo homem de quem dependiam. Nessa entrevista, afirmou que o sistema de asilo alemão era um caminho para a liberdade destas mulheres.

Polícias nas imediações da zona do ataque em Magdeburg
Autoridades policiais estão em prontidão máxima face ao ataque de sexta-feira em Magdeburg (23.12)Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance

A partir de certa altura, o distanciamento em relação ao Islão transformou-se numa rejeição aberta da política migratória alemã.

Em novembro, publicou na sua conta na rede social X uma mensagem com "quatro exigências da oposição saudita" e afirmou que a Alemanha tinha que proteger as suas fronteiras da migração ilegal.

Em seguida, acusou Merkel de ter um plano para islamizar a Europa com a sua política de fronteiras abertas.

Em outras publicações nas redes sociais, mostrou simpatia pela AfD, porque disse que era o único partido que lutava contra o Islão na Alemanha.

Taleb A. queria fundar, juntamente com a AfD, uma academia para ex-muçulmanos na Alemanha, de acordo com o "Der Spiegel". Há apenas uma semana, foi difundida uma entrevista sua, num blogue islamófobo dos Estados Unidos, na qual afirmava que o Estado alemão tinha uma operação secreta para perseguir ex-muçulmanos sauditas em todo o mundo e, ao mesmo tempo, concedia asilo a 'jihadistas' sírios.

Numa outra mensagem no X, que foi posteriormente apagada, anunciou vingança, segundo o diário "Die Welt".

De acordo com o jornal local "Magdeburger Zeitung", Taleb A. esteve ausente do trabalho nas últimas semanas, devido a uma baixa médica.

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